Conversas de mesa de bar: O céu é nossa casa

Por Sam Rodrigues

Um oceano de sorrisos falsos brota de mim, dessa boca cheia de dentes que precisam servir pra mais alguma coisa além de mastigar aquela que me engorda. Alegrar as pessoas me deixa mais alegre. Mas sozinha, não posso viver sem meu drama, sem os olhos que nem sempre são de ressaca, às vezes são de tédio mesmo, às vezes de lamento por ter te deixado escapar por entre os dedos. 

Tento viver no que é palpável, tendo me manter ligada a realidade, mas tenho alma com asas, não posso me conter. Juro que me esforço pra seguir em linha reta, mas você apareceu e me levou pra aquelas curvas das quais meu coração precisava pra se sentir vivo. Por mais que ser louca me satisfaça, não ter lucidez pode me ser fatal. É uma gangorra em que em um lado senta minha mente e na outra a alma, sendo esta ultima mais pesada, que sempre ganha, mas também me leva pra baixo. 

Você foi um sonho, um dos mais bonitos que já tive e sempre me lembrarei. O melhor de mim, o pior de mim. Sei que sou confusa e uma das poucas certezas que tive é de que era você. Te deixo livre e por mais que isso me cause pontadas no peito, contrações no abdômen, pedras nos rins, cirrose, gastrite e insuficiência cardíaca congestiva imaginarias, sofrer assim alimenta minha inspiração. 

Somos duas folhas secas jogadas ao vento pelo mundo, que por um breve segundo nesse tempo finito de vida, se tocaram. Agora estamos distantes e talvez nunca mais voltemos a nos encontrar, talvez voaremos cada vez para mais longe. Gostei tanto de ti, assim que vi, porque sei que caímos da mesma árvore. Você é a minha folha seca voadora preferida. 

Viemos de uma arvore, mas o céu é nossa casa, não temos raízes. Voa, voa minha folha. Torço pra nos cruzarmos no céu um dia, quero te ver ir alto. Nunca gostei de altura, mas agora não tenho mais medo, porque a possibilidade de te encontrar lá encima me deixa forte e corajosa.